“Às vezes são engraçadas. Às vezes tristes. Às vezes são maravilhosas.

Às vezes são horríveis. Mas são sempre só histórias”

sábado, 13 de novembro de 2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Yatch, é um Yatch porra.

Prometemos, Mamãe.




Imagine viver uma vida inteira suportando uma pessoa, dividindo seus gostos e suas vontades com alguém que se prende à você por uma promessa, assim como você se prende à essa pessoa pelo mesmo motivo. Tente simplesmente imaginar como essas pessoas se sentem depois de anos.

Matias e Mateus são ótimos exemplos de irmãos "treinados" a se gostarem, e assim foi pela vida de ambos...inteira! Ou pelo menos eles acreditavam que seria pra sempre. Porém sabemos, que um dia, um único e singular dia essa promessa se quebraria, e não haveria nada que pudesse ser feito para concertar o estrago, o mal entendido...o erro que não teria volta.
Nada poderia mudar depois que estivesse feito, nem mesmo voltar no tempo, por que isso, bem...isso não é possível!

Como sempre dizer: "Dinheiro não trás felicidade". Bom, no caso desses gêmeos, eles se aplicam bem à essa regra! Pois não foi nem o fato de ter dinheiro em si, mas somente a possibilidade de ter fez com que esses irmãos não se falassem mais até...a morte?! Bom, isso fica por conta de quem for assistir à peça.


A história de Matias é breve e sem muitas tensões, como sua mãe o fez prometer que jamais brigaria com seu irmão...bom, fora um ocorrido sua vida pode ter sido longa! É difícil dizer quando os olhos que tudo vêem estão longe.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Gui

Quando eu penso no Gui logo me vêm a palavra fragilidade à mente. Porém, fragilidade não está diretamente ligada à inocência, como muitos interpretam erroneamente. Gui se encaixa em um estereótipo de frágil, vulnerável, influenciável. Em alguns momentos consigo enxergar o Gui como uma marionete, que só precisa de um leve movimento para que todos os membros se mexam, no caso dele, só é necessária a opinião de alguém para que ele mude seu ponto de vista.


O Gui é o famoso "Stinfler" (nome de personagem famoso em "American Pie"), pois faz as coisas mais impensadas e ridículas, apenas com o intuito de aceitação. É, nesse exato momento eu descobri o que o Gui busca com suas atitudes e seu jeito, aceitação. Foi escrevendo isso que consegui nesse exato momento descobrir algo magnífico. E é exatamente em busca de tal que Gui fala coisas indevidas em momentos de tensão...e que a história acontece, é exatamente por um ato impetuoso e impensado de Gui que a trágica história tem seu desenrolar.

Comprar uma arma aos 15 anos apenas por gostar da cara dela não é bem uma coisa que possamos dizer que é...Comum.
Redigindo: Comprar um "artefato histórico" aos 15 anos apenas por gostar da cara da "porcaria enferrujada", gastar "cinquenta mangos" por ela e ir mostrar aos amigos do Condomínio "Nas Alturas" não é algo que possamos rotular de comum.
Ainda mais quando suas tardes comuns são compostas por tomar cidra e jogar pôquer.
Chegar com uma três oitão, não é NADA comum.

A propósito é por um erro estúpido de Gui que a história tem um desenrolar um tanto quanto trágico. Pensando por um lado, o Gui poderia ser considerado um vilão, mas não. Não consigo o ver de tal modo, tanto porque não é o que ele é. Mas que certas coisas poderiam ser evitadas ... sim, poderiam. O erro de Gui abriu um grande leque de erros que aconteceram, ou não, e poderiam não acontecer.

Dizem que todo ator aprende com seu personagem...bom, anda sendo muito bom conviver com o Gui pelas quintas-feiras e posso aprender com o erro dele, sem precisar eu mesma errar...e ter a sensação do que pode acontecer quando um erro desses é cometido, e vivenciar isso é magnífico. Pelo menos eu me certifico de que nunca comprarei uma arma! haha



Antes tarde do que nunca.

Esse post está meio atrasado, mas vai vingar!
Bom...no dia em que eu entrei para o grupo Cultura Inglesa do Projeto Conexões, a primeira coisa que eu pensei foi: como iria ser, o que faríamos...Bom, acho que o maior medo de quem entra em um grupo de teatro é o medo do desconhecido, pelo menos esse foi o meu. Mas depois de entrar e ver que não era nenhum bicho de 7 cabeças acabei me envolvendo...não totalmente...isso tem sido outro processo. Enfim, mas depois do medo de entrar...e já estar a um tempo no grupo eis que surge a informação de que haveria um Workshop. E lá vai a Mônica novamente morrer de ansiedade sem saber o que seria um workshop! E por mais que eu perguntasse aos meus colegas ou ao diretor...Sim, eu imaginava um lugar aterrorizante (desabafo,haha). Mas nãaaao....não era NADA do que eu imaginava ser. Foi uma das melhores experiências teatrais que já tive. O workshop de imersão foi algo importantíssimo pra ter contato com outros grupos, outros atores, diretores, e o mais importante e um momento que poucos tem a dádiva, conhecer a Escritora da peça. Pudemos questionar e assim ter um contato maior com nossos personagens. Foi uma tarde relaxante e no meu caso...Tive experiências novas!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Dara - Movimento!


A história se passa em um condomínio mal conservado não só em sua fachada, mais nas relações entre os próprios condôminos ... Nunca acontece nada. Não acontece nada Nas Alturas.


Dara é uma menina de 16 anos, tem um irmão, Joca, mais velho de 17 anos (que tenta ser a figura masculina na familia, já que eles não tem a presença do pai em casa). Eles moram com a mãe que tenta controlar seus filhos, mas eles cada vez mais criam asas para bem longe de um apartamento, um apartameto que não suporta a solidão de 3 pessoas juntas.


Os amigos de Dara, são os garotos do prédio, é garotos, ela não se encaixa em nenhum esteriótipo entre as patricinhas e nerds da sala dela. Ela é uma garota do bem, não gosta de confusões, mais ela é firme nas decisões e enfrenta até sua propria família por conta dessa forte personalidade. Ela tem uma grande amiga a Bilú, quem ela não hesita em proteger, mesmo que para isso precise contrariar toda a sua turma. Na verdade, isso já vem da natureza da Dara, pois o mesmo acontece com Lili, a sua mais nova amiga.


Forte personalidade... ''É uma menina que está sempre se movimentando, sempre correndo, sempre precisa fazer alguma coisa, ir a algum lugar e está sempre falando. Medo de ficar parada porque imobilidade é silêncio, e pessoas como a Dara odeiam silêncio. O silencio os apavora sempre querem preenche-lo.'' Essas palavras são de uma pessoa de fora, que sempre a observa, Lili, a menina que observa tanto que chega a controlar um mundo inalcansavel. A menina que controla o tempo; o poder de ir para o passado, parar no presente e avançar no futuro.


Dara leva esse seu movimento para a peça, numa peça onde o tédio consome todos os personagens, inclusive ela própria, num mundo quase estático onde o único combustivel é o poquêr e bebidas baratas, ela é quem toma as iniciativas de um possível movimento no cotidiano monótono deles. Na chegada de uma arma no condomínio Nas Alturas, ela que brinca com a arma, ela sempre brinca com o perigo. Ela se propõe a subir para falar com uma desconhecida de duas cabeças e um rabo como é conhecida Liliane, ela se propõe a quebrar o tédio de adolescentes que não sabem mais o que fazer para sair de um ''ciclo sem fim''. Ela propõe o diferente e o ousado, ela até banca de detetive. Dara não gosta de ser controlada, mais de uma maneira imperceptível é controlada pelo diferente e ela assim como a Lili, ou a Lili assim como Dara, adora controlar.
A peça se trata de Adolescentes, não esteriotipados, cada um em suas constantes insatisfações, como a solidão, insegurança, a necessidade de ser aceito, de poder, de ser amado, de amar, de mudar cotidianos, de cumprir promessas, de ser diferente. A Dara não é diferente, a propósito ela se movimenta e movimenta a peça para que ela e nem seus amigos caiam num profundo silêncio e tédio que todo adolescente é vulnerável a cair!

Ela ia pirar, heim Joca!




Não sabe com exatidão quem é ou quem pretende ser. É... como a maioria dos jovens de 16 anos. Seu mundo é representado por sua "turma do condomínio"; seus amigos e seus indiferentes tediosos. Quem ele verdadeiramente respeita e admira? Joca. Que é a única "autoridade" acima dele, no seu mundo. Joca é o grande responsável por suas atitudes e grande influência em sua formação de identidade pessoal e coletiva. Wilsom sente que Joca é o lider do bando, e ele, seu "vice". É por essa imagem que ele batalha, dia após dia, entre seus amigos... principalmente quando percebe que é assim que os outros o vêem.

Suas atitudes são bem características de um adolescente em constante tédio. Pois é assim que ele vê seu mundo e as pessoas que nele estão. Tedioso, tediosas... tudo é muito sem graça. Por que ele simplesmente não sai em busca de outras situações e pessoas? Porque não é conveniente. Wilsom constituiu-se na hierarquia juvenil daquele grupo, é trabalhoso demais fazê-lo novamente por outro grupo. A galera do condomínio é extremamente conveniente... é onde ele se inventou como uma espécie de personagem, do tipo "figurinha carimbada de bairro". Aquelas pessoas e aquele lugar são uma espécie de auto-afirmação de sua existência. A relação dele com cada um daqueles jovens é a prova concreta de que ele existe e de que "é alguém", um indivíduo social. Por mais que tudo isso lhe pareça muito chato. Wilson não vai atrás de novidades, apenas espera elas acontecerem naturalmente. Toda e qualquer situação instigante, perigosa ou que lhe conceda poder, é o tipo de situação que o excita e entusiasma. E quando esse tipo de situação surge, ele não poupa esforços para "botar pilha". Exatamente por saber que sua única opção normalmente é o nada; o tédio; o óscio.

Por fora, ele sempre busca a popularidade. Ele quer ser o cara com quem se pode contar quando Joca não está. Afinal, no fundo, tudo o que ele queria era realmente ser o Joca. Ser respeitado, admirado e temido como ele. Em sua relação com o amigo, há uma ambiguidade de sentimentos... amizade verdadeira misturada com inveja e vontade de poder. Não é culpa dele, ele não faz por mal... mas apoia-se na vaga esperança de tomar seu lugar um dia, por mais que saiba que para isso, Joca teria que abandonar seus amigos ou mudar-se de lá. E Wilsom não quer isso. A presença do amigo é algo que o completa, ele não saberia viver sem ele. Perderia suas bases e seu molde social. Ele às vezes sente-se mal ao saber que está sempre em segundo lugar. Sempre atrás de Joca por algum motivo. É sempre o segundo mais confiável, o segundo mais "brother", o segundo mais legal... nunca o primeiro.

Seus trejeitos falam por ele. Não precisa expressar sua opinião, e muitas vezes acha melhor não fazê-lo. Talvez por medo do julgamento de Joca, cuja aprovação é essencial e insubstituível. Seu apelido, "Wilsão", criado por Joca, massageia seu ego. Coloca-o no aumentativo e o engrandece perante o "chefe".

Muitas vezes ele se cala... embora não esconda seus sentimentos nem faz questão de escondê-los. Às vezes, simplesmente é melhor ficar quieto. Afinal, Wilsom é um cara sincero. Transparente. Por trás de toda a sua "malandragem" existe uma inocência disfarçada, que se constitui a cada dia que passa. Por outro lado, é um cara descolado, que gosta de zoar com a galera e divertir-se às custas alheias. É sua única forma de entreterimento, e ele desempenha muito bem esse papel dentro da turma. Zoar o Gui é algo que aprendeu a fazer com Joca, apesar de gostar do Gui. Mas zoá-lo é mais uma vez questão de auto-afirmação e de manutenção de sua posição hierárquica. Precisa tirar sarro dele e "desconsiderá-lo" para torná-lo fraco, mantendo-o longe de ser seu concorrente perante Joca. E assim ele o faz, e assim é.

Às vezes ele se pergunta o porquê das pessoas serem tão iguais, dos dias serem sempre tão iguais... mas ele nunca chega a uma conclusão. Ou melhor, nunca chega a uma solução. Tem medo de pensar demais, pois sabe que pensando é que as pessoas descobrem a verdadeira face das coisas. Wilsom não quer descobrir essa face... conforma-se e conforta-se com as coisas do jeito que são. È sua única opção.

Sente que o tempo não passa. Nunca acontece nada. Nunca está nada bom. Mas prefere conviver com esse vácuo do que perder tudo o que já constituiu como ser social e como "vide-presidente do bando". Cada um ali serve de alicerce para suas convicções pessoais, e é por isso que incomoda-se tanto ao perceber que alguém não demanda toda a atenção possível para o grupo. Ele sente-se mal ao perceber que as pessoas tem prioridades alheias ao grupo, coisas mais importantes que ele. Sente-se mal, pois para ele, a prioridade é o grupo, o mais importante é o grupo. Sua vida está alí, por tanto, a vida dos outros também deveria estar. Não consegue aceitar o fato de que alguém tenha algo mais interessante a fazer, pois ele mesmo não tem. Aquelas pessoas o constituem; e quando alguém "falta"... é como se uma parte dele faltasse também.

Apesar do medo da desaprovação de Joca, Wilsom, em certos momentos, fala mesmo. Basta sentir-se incomodado em excesso ou perceber que algo está errado, dentro de suas convicções e anseios. Fala o que tem que falar, doa a quem doer. Mas ele não precisa de palavras inteiras ou frases acabadas... não precisa de argumentos. Wlsom sabe como atingir as pessoas sem concluir raciocínios... apenas "implanta a idéia" de maneira subjetiva em suas ações e poucas palavras, o que já é o suficiente para cutucar a ferida de qualquer um que ele conheça. Não precisa terminar de falar para atingir alguém, ele o faz mal começando. Ele é tão observador que sabe de tudo o que se passa em sua volta, mesmo sem perguntar ou sem ouvir da boca alheia. Ele saca as coisas e as pessoas, daí sua habilidade em "alfinetar sutilmente" a todos, em suas feridas mais profundas.

Sua mente e seu comportamento é fruto de sua realidade social e pessoal. Wilsom é um cara de periferia, convivendo com meninos de periferia. Para ser incluído em sua sociedade, precisa agir como todos, falar como todos e pensar como todos. Daí surge uma certa futilidade e "esteriotipação" de sua personalidade. No fundo, Wilsom é um cara diferente do que é aceito em seu meio. Mas precisa afirmar-se através da construção se seu próprio personagem, em meio a seus próprios amigos. E o faz supervalorizando-se e agindo de forma levemente indiferente para com os outros, esboçando um sentimento de superioridade. Essa é a melhor escolha dentro da única escolha que ele percebeu. É a única maneira de provar para os outros e para si mesmo que ele existe. Sendo do jeito que é, com todas as crises e conflitos que cabem à um adolescente.

Realidade ou Irrealidade, Wilsom está lá. Vivendo relações com aquelas pessoas, vivendo situações com aquelas pessoas. Imaginário ou produto de matéria, é assim que ele é. Se não o é de própria autonomia, o é pelas histórias de Lili. Mas ele é... e de tanto que é, quase que é sozinho. Ele é real a partir da vivência e da essência nele impostas, a partir da interpretação de um ator real em contato com a realidade. Wilsom, pois, é real. Talvez não durante toda a vida, mas durante a vida implícita na arte de fazer histórias.




domingo, 1 de agosto de 2010

Ensaio e exploração do Rafa personagem

Aqui estão minhas principais observações sobre Rafa, um estudo de personagem que engloba sua relação com os outros personagens, com o mundo que vive e consigo mesmo. Esta é uma versão estendida e minuciosa de Espelho – Rafa, um estudo mais abrangente que acredito seja necessário para entender e compreender a razão dos acontecimentos e a trajetória de Rafa ao longo do enredo.


Relação de Rafa com os outros garotos

Partindo do pressuposto que Rafa é real e que a cena 9 (“Aberração Fictícia” – “Ela não consegue sair de lá”) realmente ocorreu podemos tomar as seguintes conclusões: Rafa, apesar de amigo é ausente, sua opinião nunca é cogitada ou mencionada, ele é imune a provocações e sua presença, apesar de requerida, é dispensável. Ele nunca é o alvo de chacotas ou brincadeiras, todos sentem-se estranhos a sua presença e parece que um véu de austeridade contemplativa e polidez formal sempre o cobrem. Todos os assuntos que o mencionam são vetados, próximo a ele tudo parece deselegante, tudo que o envolve é constrangedor, misterioso, oculto. Ele é respeitado e sua maturidade só o fortifica. Nem Dara nem Joça podem enfrentá-lo, pois ele é uma peça que não existe, ele é ausente, nada o toca, nada o desperta de seu tédio aprisionante, exceto, talvez, Lili.

Podemos concluir que a representação de Rafa pela figura dominante é exagerada. Rafa se mostra irônico, sarcástico, misterioso, intrigante, curioso e divertido em suas diversas observações de enredo. Características essas que podem ou não ser verídicas. De todo modo é possível criar um meio termo entre seu comportamento real e imaginado, dando ênfase que não são desejáveis distinções entre o Rafa real e imaginado. Creio que uma sutil diferença seja necessária lógica racional da peça. Isso é claro, se a peça precisar ser racional e, sobretudo, de acordo com o papel da figura dominante.

Notas:
Rafa, mesmo real, age como um narrador, sempre pensando, sempre observando. Seu papel, neste ponto, se assemelha ao de Bilu como leitora, mas também se diferencia, pois Rafa encara sua situação, sofre por ela, mas não foge para outras vidas e mundos como Bilu faz. Isso pode ser uma diferença crucial que resulta num interesse mais forte de Lili em rafa do que em Bilu.
Rafa é um inconformado, o vazio da existência o sufoca, o tédio o consome, ele não consegue crer que isso é tudo o que a realidade pode lhe proporcionar, essa perspectiva o tortura, ele não vê diferença entre estar vivo e morto, ou, conseqüentemente, ele prefere estar morto, pois se livrará da prisão do tédio, deixará de existir, será livre para sempre. O fato de Lili se matar e matar Dara junto é um ato de misericórdia, ela não mata Rafa, preferindo que ele continue vivo, sofrendo. Talvez por um sentimento de vingança por rafa ter tentado trazê-la a um mundo de acontecimentos, talvez por acreditar que, como Bilu, apenas os que mais sofrem deveriam morrer, como Dara que não suportaria o silêncio e a solidão.


Relação de Rafa e Lili, observações:
Lili sente um carinho por Rafa, mas talvez não chegue à intensidade do sentimento de Rafa. Ela, sabendo disso, pode ou não tê-lo convidado mais vezes a visitá-la, e provavelmente, se ela for a figura dominante, exteriorizou o desejo de querer que ele a procurasse novamente com o ciúme de Rafa por Dara. Ele, intimidado com a rejeição não voltou a procurá-la e, como conseqüência, Lili pode ter escrito o final proposto. Essa teoria pode ser verídica de acordo com a evidência de que Rafa nunca foi o elemento central entre seus amigos, como pode ser observado em suas ações anti-sociais e introvertidas. Ele é, provavelmente, um garoto tímido, inteligente e maduro.

Apesar disso há a perspectiva do Rafa. Talvez seu amor a Lili seja fruto do seu desejo de escapar do tédio, talvez a possibilidade de amar alguém seja a oportunidade de ele conseguir alguma coisa nova. Ele imagina que ela crie diversas fábulas por desejar ser livre de sua solidão opressora, mas a recusa de seu amor libertador provou-lhe que ela não é a saída para sua liberdade, que, na verdade, ela mais do que ninguém tem medo de quebrar-se em um mundo de possibilidades. Ele ofereceu a mão para a fuga do tédio e da solidão e ela recusou, é isso que o beijo significa. Ele se afastou, ela não era uma saída, era só mais um beco no labirinto de sua prisão. Há a grande possibilidade de ele nunca mais tê-la visto.

O Rafa imaginário é uma caricatura criada pela figura dominante para fazer-lhe narrador, exceto caso a identidade da figura dominante seja o próprio Rafa. Seu relato é parcial, e essa característica de impregnar os acontecimentos com sua opinião não muda o ocorrido, mas demonstra o que a figura dominante sente em relação a Rafa, apesar de ocultar sua identidade ou o limite de seu controle sobre o que ocorre.

O ciúme que a figura dominante projeta em Rafa pode revelar um possível sentimento amoroso em relação a esse personagem. Em uma hipótese em que a Lili fosse a figura dominante talvez a proximidade com Dara bastasse para despertar o ciúme, ou, não podemos descartar essa possibilidade, ela realmente nutrisse um sentimento amoroso pela Dara, e seria daí o nascimento do ciúme. Inclusive Bilu pode, caso fosse a figura dominante, ocultar tais sentimentos por Rafa na esperança que caso ele ame alguém tão desajustada e seja rejeitado certamente será capaz de amá-la. Bilu demonstra interesse e curiosidade em relação a Lili que, por sua vez, não gosta dela, outro indício de um provável sentimento amoroso pela Dara, melhor amiga de Bilu. Encontramos ai um possível triangulo amoroso em que Dara é o alvo de assédios, tanto por parte de Bilu, tanto por seu irmão, Joca, por quem nutre uma relação fraternal de respeito. Os irmãos são muito próximos e uma possível relação incestuosa também não pode ser descartada. Como podemos observar a única certeza que temos é o amor de Rafa por Lili, que, ainda assim, pode ter sido inventado. A relação de escritor-leitor que existe entre as garotas é intermediada por um “Rafa caricatura”, que narra e opina sobre os acontecimentos. Bilu, como figura dominante, é a leitora, e isso a torna onisciente, mas impotente. Como no final da peça ela observa e sobrevive, mas é vítima dos acontecimentos e da vontade de Lili. Bilu, Lili e Rafa apresentam uma natureza contemplativa e observadora, mais sencíveis aos acontecimentos, sempre ausentes, perdidos em seus próprios mundos, como se não pertencessem a este.

“Que estranha cena descreves e que estranhos prisioneiros. São iguais a nós”
Platão, República, Livro VII